música: Adagio para cordas e orgão em Sol menor de Tomaso Albinoni (1671-1751)
"Adagio" é uma parábola baseada no conto "A Velha Izerguil" de Máximo Gorki. Esta animação resulta de uma análise crua da humanidade enquanto corpo e movimento (matéria) interagindo com o que mais receia: o desconhecido. Incapaz de compreender e aceitar a diferença, movimenta-se em massa e repete-se nos seus erros.
A incompreensão do inexplicável gera medos, grandes bloqueadores e desconstrutores.
Robert Schumann (1810-1856) Kinderszenen, Op. 15 nº 7 "Träumerei" (1838)
Vladimir Horowitz, piano
Moscovo, 1986
Este concerto assinala o regresso de Vladimir Horowitz a Moscovo, depois de estar exilado nos Estados Unidos.
Quando a Alemanha se rendeu, em 1945, o "Träumerei" foi ouvido por toda a União Soviética e tornou-se um dos símbolos alusivos ao fim da 2ª Guerra Mundial.
Non, ce n'était pas le radeau
De la Méduse, ce bateau,
Qu'on se le dis' au fond des ports,
Dis' au fond des ports,
Il naviguait en pèr' peinard
Sur la grand' mare des canards,
Et s'app'lait les Copains d'abord
Les Copains d'abord.
Ses fluctuat nec mergitur
C'était pas d'la litteratur',
N'en déplaise aux jeteurs de sort,
Aux jeteurs de sort,
Son capitaine et ses mat'lots
N'étaient pas des enfants d'salauds,
Mais des amis franco de port,
Des copains d'abord.
C'étaient pas des amis de lux',
Des petits Castor et Pollux,
Des gens de Sodome et Gomorrh',
Sodome et Gomorrh',
C'étaient pas des amis choisis
Par Montaigne et La Boeti',
Sur le ventre ils se tapaient fort,
Les copains d'abord.
C'étaient pas des anges non plus,
L'Évangile, ils l'avaient pas lu,
Mais ils s'aimaient tout's voil's dehors,
Tout's voil's dehors,
Jean, Pierre, Paul et compagnie,
C'était leur seule litanie
Leur Credo, leur Confiteor,
Aux copains d'abord.
Au moindre coup de Trafalgar,
C'est l'amitié qui prenait l'quart,
C'est elle qui leur montrait le nord,
Leur montrait le nord.
Et quand ils étaient en détresse,
Qu'leurs bras lancaient des S.O.S.,
On aurait dit les sémaphores,
Les copains d'abord.
Au rendez-vous des bons copains,
Y'avait pas souvent de lapins,
Quand l'un d'entre eux manquait a bord,
C'est qu'il était mort.
Oui, mais jamais, au grand jamais,
Son trou dans l'eau n'se refermait,
Cent ans après, coquin de sort !
Il manquait encor'.
Des bateaux j'en ai pris beaucoup,
Mais le seul qui ait tenu le coup,
Qui n'ai jamais viré de bord,
Mais viré de bord,
Naviguait en père peinard
Sur la grand' mare des canards,
Et s'app'lait les Copains d'abord
Les Copains d'abord.
A expressão Copains d'abord é um jogo de palavras. Literalmente significa "os amigos estão em primeiro". No entanto escuta-se "copains de bord", que significa companheiros de bordo.
O veleiro la Méduse afundou-se a 2 de Julho de 1816. Dos cerca de 400 ocupantes, apenas sobreviveram 147. Passados 27 dias à deriva numa jangada, foram encontrados pela embarcação Argus apenas 15 pessoas vivas. Mais tarde estes sobreviventes relataram o horror que viveram durante esses dias, desde lutas até à morte, doenças, tempestades que obrigavam a que todos lutassem pelo centro da jangada ou seriam varridos pelas ondas, suicídios e inclusivé actos de canibalismo para não se morrer à fome. Esta tragédia foi imortalizada pelo pintor francês Théodore Géricault (1792-1824) no seu quadro Le Radeau de la Méduse.
A expressão em latimFluctuat nec mergitur é o lema do brasão de armas da cidade de Paris. O brasão é representado por um veleiro
que representa a poderosa corporação dos Marchands de l'eau. O rio Sena impôs o seu mote à cidade, que significa Flutua/Ondula mas não afunda/submerge.
O jogo de palavras Mais des amis franco de port: "franco de port" - encomenda paga, e "port" - cais de embarque.
Segundo a mitologia grega, os dois deuses da navegação Castor et Pollux eram irmãos gémeos inseparáveis.
Existem várias interpretações do relato de Sodoma e Gomorra. A Bíblia explicita que Deus destruiu as duas cidades Sodome et Gomorrhe porque os seus habitantes cometiam actos impuros. Os habitantes de Sodoma eram egoistas, gananciosos, crueis e sanguinários sem compaixão. Não respeitavam os estrangeiros e os pobres. Renunciavam a hospitalidade e a caridade. Conta-se que os estrangeiros que chegavam a Sodoma eram obrigados a dormir numa cama. Aos demasiado altos amputava-se-lhes o excedente; os demasiado baixos eram esticados até atingirem o comprimento da cama. Também se conta que dois anjos desceram à cidade e foram hospedados na casa de Ló. Ao anoitecer, os homens da cidade cercaram a casa do patriarca para
terem relações sexuais com os dois estrangeiros. Para defender os anjos, Ló saiu e ofereceu as suas filhas virgens para atenuar a paixão do povo.
Para se protegerem os anjos cegaram o povo que os rodeava e levaram o patriarca e a sua família para fora da cidade.
É então que se inicia a destruição de toda a planície que abrange a região de Sodoma. A partir do ano 543 este episódio passou a ser utilizado como uma metáfora para justificar a repressão da homossexualidade.
Um dos grandes pensadores e escritores franceses é Michel de Montaigne (1533-1592), célebre pelos seus "Ensaios". Montaigne et La Boétie é uma referência à amizade profunda que Montaigne nutria pelo humanista Étienne de la Boétie (1530-1563). A amizade entre estes dois companheiros era um misto de coesão intelectual e emocional, daí ultrapassar os limites do convencional. A expressão Coup de Trafalgar é utilizada pelos franceses para designar um desastre.
"O mundo sempre em mudança exige constantemente novas formas para a revelação da verdade. Outra palavra para essas formas é "cultura". A aniquilação da cultura significa aniquilação da verdade. E aniquilar a verdade é nada menos do que privar o indivíduo da sua dignidade." Rob Riemen
"Numa democracia que não respeita a vida intelectual nem é guiada por ela, a demagogia tem rédea livre, e o nível da vida nacional é rebaixado ao do ignorante e do inculto. Mas tal não acontece se o princípio da educação puder dominar e se prevalecerem as tendências para elevar as classes mais baixas a uma apreciação da cultura e à aceitação da liderança dos melhores elementos." Thomas Mann
"¿Qué tal si deliramos por un ratito? ¿Qué tal si clavamos los ojos más allá de la infamia para adivinar otro mundo posible? El aire estará limpio de todo veneno que no provenga de los miedos humanos y de las humanas pasiones... En las calles los automoviles serán aplastados por los perros... La
gente no será manejada por el automovil, ni será programada por el
ordenador, ni será comprada por el supermercado, ni será, tampoco,
mirada por el televisor. El televisor dejará de ser el miembro más importante de la familia y será tratado como la plancha, o el lavarropas. Se
incorporará a los códigos penales el delito de estupidez, que cometen
quienes viven por tener o por ganar en vez de... vivir por vivir
nomás... Cómo canta el pájaro sin saber que canta y cómo juega el niño
sin saber que juega. En ningún país iran presos los muchachos que se nieguen por cumplir el servicio militar, sino los que quieran cumplirlo. Nadie vivirá para trabajar, pero todos trabajaremos para vivir. Los economistas no llamarán nivel de vida al nivel de consumo ni llamarán calidad de vida a la cantidad de cosas. Los cocineros no creerán que a las langostas les encanta que las hiervan vivas. Los historiadores no creerán que a los países les encanta ser invadadidos. Los políticos no creerán que a los pobres les encanta comer promesas. La solemnidad se dejará de creer que es una virtud, y nadie, nadie, tomará en serio a nadie que no sea capaz de tomarse el pelo. La
muerte y el dinero perderán sus mágicos poderes, y ni por defunción ni
por fortuna se convertirá el canalla en virtuoso caballero. La comida no será una mercancía, ni la comunicación un negocio... porque la comida y la comunicación son derechos humanos. Nadie morirá de hambre... porque nadie morirá de indigestión. Los niños de la calle no serán tratados como si fueran basura, porque no habrá niños de la calle. Los niños ricos no serán tratados como si fueran dienro, porque no habrá niños ricos. La educación no será el privilegio de quiénes puedan pagarla y la policía no será la maldición de quiénes no puedan comprarla. La
justicia y la libertad... hermanas siamesas condenadas a vivir
separadas, volverán a juntarse, bien pegaditas, espalda contra espalda.. En
Argentina, las locas de plaza de mayo serán un ejemplo de salud mental,
porque ellas se negaron a olvidar en los tiempos de la amnesia
obligatoria. La Santa Madre Iglesia corregirá algunas erratas de las
tablas de Moisés, y el sexto mandamiento ordenará: festejar el cuerpo.
La Iglesia también dictará otro mandamiento que se le había olvidado a
Dios: amarás a la naturaleza de la que formas parte. Serán reforestados los desiertos del mundo y los desiertos del alma. Los
desesperados serán esperados y los perdidos serán encontrados, porque
ellos se desesperaron de tanto esperar y ellos se perdieron por tanto
buscar. Seremos compatriotas y contemporareos de todos los que tengan
voluntad de belleza, y voluntad de Justicia... hayan nacido cuando
hayan nacido y hayan vivido donde hayan vivido, sin que importe ni un
poquito las fronteras del mapa ni del tiempo. Seremos... imperfectos, porque la perfección seguirá siendo el aburrido privilegio de los dioses. Pero
en este mundo, en este mundo chambón y jodido, seremos capaces de vivir
cada día cómo si fuera el primero y cada noche cómo si fuera la última."
"Ninguém
toma a sério a bicicleta como eventual substituto do automóvel na crise
de energia que atravessamos, que nos atravessa. A bicicleta é
resignação, fleuma, ginástica, infância revisitada, revivida (mais como
sonho do que como prática), humor, euforia dominical de carolas que vão
«pescar» a sua caldeirada a vinte ou trinta quilómetros da cidade. A
bicicleta poderá ser a pedalada contestação dos amigos da Natureza. Para
nós, os escravos do volante, ela não passa de mais uma ideia que nos
faz sorrir. Nada substituirá, no nosso apreço, o automóvel. Nem no
trabalho, nem no lazer. Por enquanto... Mas a bicicleta tem outros
pedais que não podemos ver. Movido pela necessidade, esse «tubular
engonço», como em jeito barroco uma vez lhe chamei, desenrola
quilómetros bem menos alegres do que as tiradas que nele sonhamos fazer.
A bicicleta pode ser o mundo às costas: serra de carpinteiro, caixa de
ferramentas, cesto de padeiro. A bicicleta pode ser a cruz às costas.
Para um renovado olhar sobre a bicicleta, aqui transcrevo, sem mais
oitos, o «Apelo Angustiante» que há anos, por ocasião das grandes cheias
na região de Lisboa, apareceu nos jornais:
«O meu marido saiu de casa
no dia 25 de Novembro para procurar trabalho no Carregado ou no
Barreiro, levava: uma bicicleta a pedais, caixa de ferramenta de
pedreiro, vestia calças azuis de zuarte, camisa verde, blusão cinzento,
tipo militar, e calçava botas de borracha e tinha chapéu cinzento e
levava na bicicleta um saco com uma manta e uma pele de ovelha, um fogão
a petróleo e uma panela de esmalte azul. Como houve as inundações e não
tive mais notícias, já estou alarmada e já espero o pior. Estou aflita,
eu e os meus dois filhos.”
"Ella está en el horizonte - dice Fernando Birri - Me acerco dos pasos, ella se aleja dos
pasos. Camino diez pasos y el horizonte se corre diez pasos más allá. Por mucho que yo camine, nunca la alcanzaré. ¿Entonces para que
sirve la utopía? Para eso sirve: para caminar."