"Tudo se tornou rotina e já ninguém sabe porque está a usar certos movimentos. Tudo o que sobra é uma estranha espécie de vaidade que se afasta cada vez mais das pessoas. E eu acho que deveríamos estar cada vez mais perto do outro." Pina Bausch
Cafe Müller, 1978
versão televisiva 1985
De salientar especial atenção a partir do minuto 20, sem menosprezar a obra no seu todo, quando se escuta a ária "Dido's Lament", também chamada "When i am Laid in Earth", da ópera Dido e Aeneas de Henry Purcell. Este é um dos momentos de beleza rara.
Intérpretes: Pina Bausch, Malou Airaudo, Domenique Mercy, Jan Minarik, Nazareth Panadero, Jean Laurent Sasportes.
Música: The Fairy Queen e Dido and Aeneas de Henry Purcell
Café Müller é a obra mais íntima de Pina Bausch. De certa forma espelha as experiências que a coreógrafa vivenciou durante a sua infância no restaurante do seu pai.
Carregado de uma carga emocional profunda e apresentada de forma minimalista, esta obra vive suspensa num movimento entre as diferentes personagens que deambulam num café deserto. Recordações, solidão, a ausência de profundidade no contacto, as relações, os encontros, os desencontros. Este é o retrato que Pina Bausch apresenta de uma Alemanha pós-guerra. As paredes cinzentas, escuras, cadeiras e mesas dispersas enquanto seis corpos gastos vagabundeiam um a um e contagiam no espaço o desamparo, a angustia, a raiva, derrubando e destruindo a ordem. Um movimento claustrofóbico e circular entre a violência e a apatia.
É uma obra melancólica, sem esperança. Um lamento profundo. Arrebatadoramente triste.
Mas de uma beleza única.
De salientar especial atenção a partir do minuto 20, sem menosprezar a obra no seu todo, quando se escuta a ária "Dido's Lament", também chamada "When i am Laid in Earth", da ópera Dido e Aeneas de Henry Purcell. Este é um dos momentos de beleza rara.
"Na sua versão do mito, o libretista (Nahum Tate) retoma globalmente o Canto IV da Eneida de
Vergílio, com algumas alterações. Em fuga de Tróia, onde o seu povo fora derrotado, e impedido de
chegar a Itália por uma tempestade, Eneias vê-se arrastado para uma praia próxima de Cartago onde,
uma vez chegado à cidade, conhece a rainha e lhe relata as penas passadas. A paixão é imediata
e recíproca. Quando a ópera começa, prepara-se a boda no palácio de Dido. Belinda, sua confidente,
procura animar a rainha hesitante, incutindo-lhe a convicção de que o amor que sente é mútuo.
É a acção malévola de uma feiticeira opositora de Dido que gorará estas expectativas. Disfarçado
de Mercúrio, um elfo comandado pela feiticeira aparecerá a Eneias ordenando-lhe que parta ainda
nessa noite por força da vontade de Júpiter. O herói cede à pretensa ordem divina e decide-se por
uma partida quase imediata, para grande gáudio da feiticeira e das suas bruxas – e manifesto
desespero de Dido. Não suportando a dor, a rainha canta o seu lamento derradeiro até à morte:"
"When I am laid, am laid in earth,
may my wrongs create no trouble
no trouble in, in thy breast.
Remember me, remember me, but ah!
Forget my fate.
Remember me, but ah!
Forget my fate.
Remember me, remember me, but ah!
Forget my fate."
"Dido's Lament"/"When i am Laid in Earth" da ópera Dido e Aeneas
Henry Purcell (1659-1695)
Pina Bausch, bailarina e coreógrafa alemã, nasceu em Solingen em 1940 e faleceu em Wuppertal em 2009.
Em 1960 continua os seus estudos na Juilliard School em Nova York, sendo discípula de Antony Tudor, José Limon e Paul Taylor.
Terminados os estudos, Pina mantém contacto com Tudor e Taylor participando em conjunto na Metropolitan Opera Ballet Company e na New American Ballet.
A partir de 1972, Pina torna-se a directora artística do Wuppertal Opera Ballet, actual Tanztheater Wuppertal Pina Bausch.
A partir dessa data a companhia cria um vasto número de obras apresentadas por todo o mundo:
1973 Fritz; Iphigenie auf Tauris
1974 Zwei Krawatten; Ich bring dich um die Ecke und Adagio
1975 Orpheus und Eurydike; Frühlingsopfer
1976 Die sieben Todsünden
1977 Blaubart; Komm tanz mit mir; Renate wandert aus
1978 Er nimmt sie an der Hand und führt sie in sein Schloss, die anderen folgen; Café Müller; Kontakthof
1979 Arien ; Keuschheitslegende
1980 1980 – Ein Stück von Pina Bausch; Bandoneon
1982 Walzer; Nelken
1984 Auf dem Gebirge hat man ein Geschrei gehört
1985 Two Cigarettes in the Dark
1986 Viktor
1987 Ahnen
1989 Palermo Palermo
1991 Tanzabend II
1993 Das Stück mit dem Schiff
1994 Ein Trauerspiel
1995 Danzón
1996 Nur Du
1997 Der Fensterputzer
1998 Masurca Fogo
1999 O Dido
2000 Wiesenland; Kontakthof – Mit Damen und Herren ab 6
2001 Água
2002 Für die Kinder von gestern, heute und morgen
2003 Nefés
2004 Ten Chi
2005 Rough Cut
2006 Vollmond
2007 Bamboo Blues
2008 Sweet Mambo; Kontakthof – Mit Teenagern ab 14
2009 …como el musguito en la piedra, ay si, si, si …
Em 1983 interpreta o papel de Principessa Lherimia no filme "E la nave va" de Federico Fellini.
Em 1990 realiza "O Lamento da Imperatriz".
Em 2002 participa com excertos das obras Cafe Müller e Mazurca Fogo no filme "Habla con Ella" de Pedro Almodovar.
Foram realizados vários documentários e séries de televisão acerca do seu trabalho:
Em 1983 interpreta o papel de Principessa Lherimia no filme "E la nave va" de Federico Fellini.
Em 1990 realiza "O Lamento da Imperatriz".
Em 2002 participa com excertos das obras Cafe Müller e Mazurca Fogo no filme "Habla con Ella" de Pedro Almodovar.
Foram realizados vários documentários e séries de televisão acerca do seu trabalho:
1980 Die Generalprobe de Werner Schroeter
1983 What Are Pina Bausch and Her Dancers Doing in Wuppertal? de Klaus Wildenhahn
1983 Plaisir du théâtre de Georges Bensoussan
1983 Un jour Pina m'a demandé de Chantal Akerman
1990 3res 14torze 16tze de Cristina Ferrer.
2002 Pina Bausch - A Portrait de Peter Lindbergh
2004 La mandrágora de Miguel Sarmiento
2006 Pina Bausch de Anne Linsel
2010 Dancing Dreams de Rainer Hoffmann e Anne Linsel
2011 Pina - Dance Dance Otherwise We are Lost de Wim Wenders
E o genial "Pina Bausch - Lissabon Wuppertal Lisboa" um documentário de Fernando Lopes, aquando da residência de Pina em Lisboa (1998), o qual aconselho vivamente.
"Eu não investigo como as pessoas se movem,
mas o que as move."
Pina Bausch